A TV estava ligada quando, ao passar por ela, uma chamada de noticiário chamou minha atenção. Uma onda de protestos contra governos ditadores no Médio Oriente havia levado milhares de pessoas a deixar seus países e buscar abrigo, e uma possibilidade de futuro, em outras nações.

A imagem era assustadora: homens, mulheres e crianças caminhando apenas com o que cabia nas mãos, ou em uma mochila empoeirada pela terra levantada pela caminhada longa sob um solo cinza, seco. Havia, também, os que tomaram outros caminhos e colocaram suas vidas em risco ao atravessar o mar em barcos pequenos e extremamente frágeis, entregues a própria sorte.

Os homens de traços fortes e barbas escuras, assim como as mulheres com suas cabeças cobertas e vestidos longos, traziam com eles uma cultura e religião que, até então, eram completamente desconhecidas para muitos de nós, latinos americanos.

Em pouco tempo a preocupação a respeito do enorme fluxo de refugiados árabes, em sua grande maioria muçulmanos, e das alterações culturais que isso ocasionaria nas nações que os recebiam.

O motivo com que escrevo a respeito do assunto é apresentar um pouco da religião, seu modo de pensar, suas regras, suas intenções para com os que são e pensam diferente a eles.

Reconhecendo o fato de que é impossível escrever a respeito de um tema tão complexo, utilizarei algumas perguntas que me fizeram a respeito do tema e abordarei tópicos que penso serem relevantes para uma melhor compreensão dessa religião que tem se difundido rápida e progressivamente em todo o mundo: o Islã.

É imprescindível fazer saber que: assim como no Cristianismo existem divisões de entendimento teológico, entre os muçulmanos também existem um leque de possibilidades de leitura e compreensão do Quran (Alcorão), sendo assim, alguns posicionamentos a respeito de um ou outro assunto podem divergir entre eles.

Quem são os muçulmanos?

Os muçulmanos são aqueles que fazem parte de uma religião chamada Islamismo.
Ao contrário do que muitos pensam, árabe não é sinônimo de muçulmano.  Árabe representa uma etnia,  nacionalidade, e muçulmano é aquele que é praticante da religião islâmica. Por exemplo, existem árabes cristãos, como por exemplo o Líbano, um país árabe onde há uma forte presença cristã na nação; como há pessoas de outras etnias que são muçulmanos, como o Irã, um país de maioria persa que vive sob as leis islâmicas (sharia) desde a Revolução de 1979.

No que eles crêem?

O livro que dita os princípios, pilares e valores da fé islâmica é o Alcorão (Quran), escrito pelo profeta muçulmano Mohammed.

Todos os muçulmanos são extremistas?

Não. Existem inúmeras vertentes no Islã, algumas são consideradas extremistas – essas tendem a impor a sharia através das leis, da força e das guerras – e outras, moderadas, isto é, não fazem a interpretação do Alcorão de forma literal, o que permite a coexistência com outras religiões e pensamentos.

Muçulmanos matam cristãos?

Existe uma linha extremista do Islã que lê a Surah, livro parte do Quran:  ‘’Anseiam (os hipócritas) que renegueis, como renegaram eles, para que sejais todos iguais. Não tomeis a nenhum deles por confidente, até que tenham migrado pela causa de Deus. Porém, se se rebelarem, capturai-os então, matai-os, onde quer que os acheis, e não tomeis a nenhum deles por confidente nem por socorredor’’ (4:89) de modo literal e, dessa forma, sim, eles matam os cristãos que não aceitam converter-se ao islamismo em situações como as de guerra ou dentro de uma nação regida pela sharia.

Extremistas matam cristãos?

Não. Existem muitas brigas entre grupos muçulmanos. Uma das maiores é a crise entre sunitas e xiitas, as duas maiores vertentes do Islã.
Na última guerra que aconteceu no Iraque, por exemplo, a maior parte dos atentados foram de muçulmanos contra muçulmanos – uma briga política, religiosa e territorial do DAESH/ISIS, grupo sunita que surgiu da Al Qaeda, contra os xiitas.

Os refugiados que vieram ao Brasil são muçulmanos extremistas?

Não. Os refugiados que vieram ao Brasil estavam fugindo dos extremistas.

Por que há tantos muçulmanos no mundo?

Além do fato natural dos povos adeptos ao Islã gerarem mais filhos do que os demais, existe uma regra muito clara a respeito de como fazer com que os filhos sigam a fé muçulmana: uma mulher muçulmana não pode casar com um não-muçulmano, mas um homem muçulmano pode casar-se com mulheres de outras religiões, desde que os filhos sejam instruídos na fé islâmica. Além desse fator, o islamismo também intervém diretamente no âmbito político, promovendo a religião como uma fonte legislativa e, dessa forma, proibindo a população de converterem-se a outras religiões.

Por que em alguns países de maioria muçulmana existe casamento infantil?

O fato do profeta muçulmano Mohammed ter se casado com Aisha* quando ela tinha 6 anos e a desposado quando ela estava com 9, é usado por alguns como argumento para promover a ideia de que uma garota de 9 anos está pronta para o matrimônio – no islamismo, a crença é que nenhum profeta pecou; logo, o ato de desposar uma menina de 9 anos não é errado/pecado.

Qual a maior diferença entre a fé cristã e a fé muçulmana?

Apesar de alguns personagens bíblicos também fazerem parte da história da religião muçulmana – lembrando que os povos que disseminaram o islamismo são descendentes de Ismael, filho de Abraão com Agar – os relatos possuem uma dinâmica diferente e apresentam Deus – que em árabe é Alá  – sob uma outra perspectiva.

Através de Jesus, a visão cristã apresenta Deus como Pai , o doador da salvação, alegria, justiça; como para os muçulmanos Jesus (Issa) é apenas um profeta e, por isso, cumprir regras é a única forma de ter direito ao céu (lembrando que a expectativa de eternidade entre o Cristianismo e o Islamismo também é diferente).

Como apresentar Jesus para um muçulmano?

Os muçulmanos aprendem a seguir as leis do Quran desde a infância e são ensinados a nunca questionar sua religião. É imprescindível ter ciência de que um dos maiores propósitos de um muçulmano é promover a fé islâmica e eles o fazem de modo intencional e direto – ao entrar em uma conversa com um muçulmano esteja pronto para ser interrogado a respeito da sua fé em Jesus Cristo como filho de Deus(!). Infelizmente, grande parte dos cristãos que não têm um conhecimento profundo da Palavra de Deus, sendo um alvo fácil para os muçulmanos que são capazes de recitar trechos inteiros do Quran para convencê-lo de que suas palavras são melhores do que o Evangelho.

O acontece quando um muçulmano se converte?

Isso depende do país onde ele esteja. Em países onde é proibido a pregação do Evangelho, há incontáveis testemunhos a respeito de muçulmanos que tiveram sonhos e/ou visões a respeito de Jesus e converteram-se, outros ouviram sobre Jesus através de um cristão e tiveram suas vidas transformadas por Ele.

A corversão é um dos grandes dilemas para aqueles que vivem em um país regido pela sharia, pois a saída do Islã pode custar-lhes a exclusão social, familiar e até mesmo a vida.

Sim, eu sei que esse tema é complexo e que há centenas de detalhes que não foram mencionados, mesmo assim espero ter auxiliado na compreensão do que é o mundo muçulmano, suas crenças – mais do que isso, espero que esse texto te impulsione a amar e a orar por essas pessoas que, assim como eu e você, são amadas por Deus.


* Sahih Al-Bukhari, Volume 5, Book 58, Number 234